Para contribuir com o debate de projetos que marca o período eleitoral, a ABONG tem procurado sistematizar suas reflexões sobre as concepções de desenvolvimento que defende desde sua fundação, há dezenove anos atrás. A ideia é formular um documento a partir das discussões feitas nas regionais e em diversas atividades, para pautar com a sociedade as questões consideradas fundamentais pelo campo ao qual pertence.
De forma geral, as organizações, redes e articulações que fazem parte do campo progressista e defensor de direitos no qual a ABONG se inscreve, têm se preocupado em discutir os impactos de um modelo de desenvolvimento extremamente agressivo ao planeta, combinado a um modelo de sociedade cada vez mais voltado para o consumo.
O Brasil se insere nesta perspectiva ao adotar uma série de opções, como o cultivo extensivo de cana-de-açúcar e outros elementos para a produção de álcool combustível em detrimento do cultivo de alimentos, e mais recentemente ao investir na extração de petróleo ao invés de apostar em práticas não agressivas de geração de energia.
A adoção de um modelo de desenvolvimento calcado na construção de grandes obras de infra-estrutura cuja relação custo benefício é terrível para as populações afetadas – caso da hidrelétrica de Belo Monte – e na comercialização em grande escalada de bens como automóveis, graças a incentivos fiscais, deixando as cidades cada vez mais impossíveis ao invés de investir em transporte público, também vai neste sentido.
Há milhares de outros exemplos para ilustrar a situação descrita, que se repete em vários países do mundo, e não só no Brasil. Podemos dizer que a humanidade, ao adotar a direção da não-sustentabilidade, tem trabalhado intensamente para tornar o planeta inabitável ao desmatar grandes florestas para transformá-las em pastagens, deslocar populações para construir grandes barragens e usinas, poluir rios e mares ao despejar esgoto e agrotóxicos etc.
Tudo isso tem contribuído para acelerar os processos de derretimento de geleiras, esgotamento de recursos naturais como a água doce, entre outros que interferem diretamente no regime de chuvas e provocam severas alterações climáticas. A intensificação dos chamados fenômenos naturais, aliada ao descaso com o planejamento urbano das cidades acaba por prejudicar a população pobre que vive em condições de mais vulnerabilidade.
Esse quadro só será revertido a partir de uma transformação estrutural do sistema capitalista, que tem na perpetuação de todos os aspectos acima colocados suas principais características. Se não formos capazes de reverter o atual processo de conversão da vida em mercadoria, condenaremos as futuras gerações a vivenciar a destruição do planeta.
São essas questões que a ABONG pretende pautar nos momentos que antecedem as eleições, chamando a atenção de candidatas e candidatos para a urgência em discutir um outro modelo de desenvolvimento. Paralelamente, a Associação participa também de uma iniciativa proposta por grupos e redes como Gife e Fundação Esquel para pautar questões relacionadas à criação de um marco regulatório para as organizações da sociedade civil junto às/aos presidenciáveis. Esta é outra questão sobre a qual a ABONG tem se debruçado e que merece a atenção de todas e todos interessadas/os no fortalecimento da sociedade civil organizada no Brasil.