terça-feira, 15 de dezembro de 2009

É preciso reduzir 85% das emissões para estabilizar o clima

Alfredo S. Silva Professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro e representante da Sociedade Brasileira de Meteorologia no Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), o meteorologista Alfredo S. Silva representa o Confea na delegação brasileira que está na Conferência de Copenhague para discutir as metas de controle das mudanças climáticas.
Confea – O desmatamento é um dos principais emissores de gás carbônico. Qual a importância de se manter a floresta em pé para o processo de mitigação das mudanças climáticas? Esta proposta tem apoio em Copenhague?
Alfredo Silva – Em nosso país, que possui uma matriz energética excepcionalmente limpa, 75% das emissões são resultantes do desmatamento de nossas florestas. Preservar nossas florestas significa evitar que milhões e milhões de toneladas de gás carbônico não sejam introduzidos em nossa atmosfera, mitigando assim as mudanças climáticas. No momento, em Copenhague, esse assunto tem destaque na pauta das propostas e nas negociações.
Confea – Numa visão mais técnica, como o senhor avaliaria as discussões sobre as mudanças climáticas na Conferência de Copenhague e qual a sua visão sobre o impasse no estabelecimento das metas de redução de emissão de gases, tanto por parte dos países desenvolvidos quanto aqueles em desenvolvimento?
Alfredo Silva – Numa visão técnica, devo dizer que não espero um resultado significativo desta reunião de Copenhague. Para que as mudanças que já estamos percebendo em nosso clima se estabilizem em níveis aceitáveis, seria necessária uma diminuição de emissões da ordem de 85% em relação aos níveis emitidos no momento. Não é uma meta possível de ser alcançada agora. O que está se discutindo em Copenhague são metas bem mais modestas que esta e que são, no momento, o que se pode fazer com tantos países envolvidos e tantas realidades diferentes em termos econômicos e sociais. O que eu espero de Copenhague é um resultado politicamente satisfatório, em que se chegue a metas possíveis de serem implementadas por cada país.
Confea – O senhor acredita que reverter o processo de mudanças climáticas é possível no mesmo nível, por todos os países?
Alfredo Silva – O processo de mudanças climáticas é global. Não há como ser resolvido por um país isoladamente. Cada um terá que contribuir individualmente com tudo que lhe for possível para que, no somatório, o quadro de concentração de gases do efeito estufa se estabilize em níveis aceitáveis, para que as mudanças no tempo, no clima, no nível do mar, na bioesfera e em vários setores econômicos possam ser controladas de tal modo que possamos nos adaptar e conviver com essas mudanças. Reverter não é mais possível. As mudanças já estão aí. O que podemos é não exacerbar essas mudanças e aprender a conviver com elas.
Confea – A questão sobre os desastres naturais (chuvas/enchentes, secas) está tendo alguma relevância para o estabelecimento das metas da Conferência?
Alfredo Silva – Esse é um dos aspectos que sempre é levado em conta neste estabelecimento das metas, mas muito menos do que eu entendo como satisfatório. Existe sempre uma tendência dos planejadores, dos nossos governantes e até mesmo da população em achar que nada se pode fazer em relação a isso. Precisamos investir pesadamente em sistemas de alerta de eventos extremos e em planejamento de cidades que comportem um aumento na frequência e na intensidade dos fenômenos meteorológicos mais intensos. Não gosto de ver nossos governantes achando que nada se pode fazer contra essa situação quando soluções técnicas viáveis estão aí para serem implementadas.