quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O lucro verde e o futuro

Artigo de José Renato Nalini.

O empresário lúcido já percebeu que há segmento importante de mercado que se preocupa com o futuro do Planeta. A exploração insensata dos recursos naturais conduziu a humanidade a uma trágica bifurcação. A persistir no uso irracional de bens da vida imprescindíveis à sua permanência – água, ar, vegetais e animais – logo a continuidade da espécie humana será inviável.

Tal tendência fez com que muitos mergulhassem no marketing verde. Bancos, mineradoras, indústrias de fertilizantes, todos procuram mostrar-se ecologicamente corretos. Evidência disso foi que, em Copenhague, um terço da imensa delegação brasileira era de representantes de empresas. Seus interesses vão da defesa da sustentabilidade de seus segmentos à procura de parcerias internacionais para transferência de tecnologia.

Não foi sensível o êxito da empreitada porque o europeu sabe distinguir entre o que significa tutelar o ambiente e o que representa “vender seu peixe”, âncora do capitalismo. Os brasileiros precisam se empenhar com seriedade maior na sua opção pela ecologia. Embutida na propaganda, está a ironia do fundamentalismo ambiental, a acusação de que o ambiente impede a construção de usinas e de outras obras de impacto. Tudo embalado no ceticismo que leva as “pollyanas” a afirmarem que o catastrofismo é exagerado. O mundo sempre foi assim e sempre continuou a existir.

Imprescindível para as propostas consistentes, a percepção e assimilação de novas tecnologias para uma economia verdadeiramente sustentável. A Feira Bright Green é um exemplo de tecnologias verdes e de abertura de novas áreas. É de se pensar na diversificação da matriz energética, para gradual abandono dos combustíveis fósseis. Levar a sério a energia eólica, a energia solar, a energia das marés. A ecoeficiência precisa ser aprimorada, assim como a precificação de carbono e inovação de ruptura. Não há possibilidade de achar que o etanol resolve todos os nossos problemas e que o plantio de uma árvore no Dia do Meio Ambiente já deve aliviar a consciência pesada. Quem se acomodar será atropelado pela nova economia e o lucro verde é o futuro incontornável do mundo, se a humanidade pretende continuar a habitá-lo.

José Renato Nalini, desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium.