sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Problema do tráfico de crianças no Haiti ganha destaque após terremoto

Longe de ser um problema atual, o tráfico de crianças no Haiti está obtendo notoriedade com o caso dos missionários americanos pegos com um grupo de crianças de dois a doze anos, levá-las a um orfanato em outro país.
Hoje, 18/02, de acordo com a Folha de São Paulo, oito dos dez acusados desembarcaram em Miami, após libertação determinada por um juiz haitiano. Os outros dois serão investigados por uma viagem anterior ao terremoto do dia 12/01, que devastou o Haiti.
Advogados da organização batista New Life Childrens Refuge, da qual fazem parte os cinco homens e cinco mulheres presos no Haiti no fim de janeiro, após o terremoto, alegam que os pais entregaram as 33 crianças voluntariamente e por isso não cometeram nenhum crime. Abordados enquanto seguiam em direção à República Dominicana em um ônibus, para lá ocupar um hotel que seria transformado em orfanato, a defesa dos missionários procede com a realidade de muitas famílias haitianas que, entrevistadas pela agência France Presse, confirmaram a entrega dos filhos. A identidade das crianças, no entanto, ainda não foi revelada.
A organização Aldeias Infantis SOS está protegendo as crianças em Porto Príncipe e confirma que elas passam bem.
Problema antigo
No dia 07/02, a agência EFE publicou uma matéria sobre um venezuelano detido na fronteira do Haiti com quatro crianças e dois adultos. Luis Gullermo Medina Velasco pode pertencer a uma rede internacional que trafica imigrantes à República Dominicana, trabalho que se intensifica com a desordem do país.
O Exército de uma província dominicana confirma que quase diariamente têm de lidar com imigrantes haitianos ilegais, a maioria menores de idade, com parentes vivos e alvos do tráfico humano desde muito antes da tragédia.
Solidariedade duvidosa
Famílias francesas já adotaram 277 crianças haitianas, desde o tremor e o governo pede para as autoridades haitianas agilizarem ainda mais os processos de adoção, o que vai contra a política de algumas organizações sociais de primeiro localizar as famílias e recuperar o ambiente familiar e social das crianças.
Segundo a Folha de São Paulo, a França foi o país que mais adotou haitianos no ano passado.
Denúncia
Em reportagem ampla sobre o tema, no dia 04/02, a agência Deutsche Welle, divulgou que antes do terremoto o Haiti já contava com 400 mil órfãos, em uma população de 9 milhões de habitantes. Com um número não estimado após a tragédia, muitas agora vivem como escravas de famílias que trabalhavam antes da morte dos parentes.
Com o perigo da adoção imediata servir para o tráfico (cada bebê chega a valer 10 mil dólares, de acordo com o UNICEF) Rubén Wedel, da Kindernothilfe – agência de apoio ao desenvolvimento de crianças e adolescentes – alerta para a falta de informações básicas como registro em cartório dos cidadãos: "Eu alerto para o perigo, porque o tráfico infantil pode aumentar. Há menos controle sobre o desaparecimento de crianças. A situação é muito caótica. O primeiro passo é registrar as crianças. Se ninguém sabe da existência das crianças, ninguém irá notar a falta delas."
Com um terço das crianças sem certidão de nascimento, o Haiti, ao lado da Guatemala, sempre foi o paraíso para o tráfico humano no continente americano.
Não integrando a Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, de 1993, o país com cerca de 250 mil crianças em trabalho escravo, segundo o governo, até agora não fez nada para mudar esta situação.