sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Educado é quem recicla

Artigo de José Renato Nalini.

No Brasil em que sobram maus exemplos, também campeia o excesso de lixo. A mesma falta de educação e ética suficiente a sepultar a honestidade, a probidade, a virtude e o compromisso, multiplica as maneiras pela qual o animal homem produz dejetos.
Cada brasileiro produz entre 700 gramas e 1,5 quilo de resíduos por dia. O destino disso é outra prova de sujeira. Embora há várias décadas se proclame o princípio ambiental dos três Rs: reduzir, reutilizar e reciclar, pouca gente se conscientizou de que assim não dá. O mundo parece destinado a morrer sufocado em lixo.
Raros os humanos que se propõem a reduzir seus gastos. Com água, energia elétrica, uso de combustíveis fósseis. Com necessidades supérfluas, criadas pelo marketing consumista. A reutilização também é pouco levada a sério. Reciclar, então, é um discurso pouco praticado. Na capital paulista, apenas 1% das 15 mil toneladas de lixo produzidas diariamente passa pela coleta seletiva. 0s 70 caminhões especiais atendem a cerca de 20% dos moradores.
Os 422 caminhões que recolhem lixo comum – 9.500 toneladas/dia – o transportam para os aterros de Caieiras, Guarulhos e São João, em Sapopemba. Enterrados, esses dejetos demorarão séculos para se decompor.
A reciclagem feita mais por carência do que por educação ambiental sofreu recente retrocesso. No Brasil, o desvalido é que apanha latinhas ou papelão. Se não fizer isso, morre de fome porque não tem emprego. Mas hoje o preço do papelão, da garrafa PET e das caixas longa-vida caiu pela metade. Muitos não conseguem se sustentar com o que ganham e preferiram voltar para a mendicância ou para a obtenção de uma das bolsas governamentais.
Com a redução dos catadores, muita gente voltou a lançar ao lixo comum aquilo que era destinado à reciclagem. Com isso, os aterros receberam 10% a mais de recicláveis. Para culminar, como castigo ao povo sujo, o Brasil recebe milhares de toneladas de lixo inglês, importado como se fora polímero a ser utilizado na indústria química. O que é que as presentes gerações vão falar para as suas descendências? Se é que estas chegarão a existir ou a sobreviver, tal o rumo que a sujeira está tomando.

José Renato Nalini é desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) e autor de Ética Ambiental, editora Millennium.
Retirado do site: Observatório Eco

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